Em 1969, a 708/709 Norte viu ser ali fundada uma oficina mecânica para automóveis – a Oficina Perdiz, que leva o nome de seu dono, José Perdiz. Mal sabia o empreendedor que o espaço viria subverter a ordem matemática dos criadores de Brasília, segundo a qual diversão e arte tinham setor certo para ocorrer.
O enteado de Perdiz, estudante de teatro na Faculdade Dulcina de Moraes, começou a utilizar o espaço para ensaios e, até o fim da década de 1980, o local já havia se tornado um espaço cultural reconhecido em Brasília: a Oficina Perdiz. O local é um patrimônio imaterial da cultura do DF, e uma prova de que cultura e arte são capazes de ocupar qualquer espaço da cidade, tornando manifestações artísticas mais acessíveis. “Meu trabalho nunca foi fácil, nem tenho dinheiro para bancar apresentações. Mas ajudar os outros e incentivar a cultura é fundamental, mesmo em tempos de dificuldade”, afirma Perdiz.
Depois de ver cem peças apresentadas em seu estabelecimento, o dono diz reconhecer o poder das artes cênicas. “Quando a gente não entende a arte, é fácil falar que não gosta. Após ver o sofrimento dos atores na montagem das peças, a ansiedade nas apresentações e nos ensaios, passei a compreender o universo por trás das cortinas, e me encantei”, diz José.
Os atores que por lá passaram afirmam que encenar em uma oficina mecânica é uma experiência única, que cria outras dimensões para as obras e para a relação palco-plateia. Em 2002, a Oficina foi ameaçada de ser fechada, por ser construída em espaço ilegal. Mas vários artistas locais se reuniram em ato para impedir que isso acontecesse.