Maria Esmeralinda (Sertânia, PE, 1928) veio para Brasília para ser empregada doméstica e acabou se tornando artista. Há mais de 20 anos, fabrica e vende santos de buriti na Feira da Torre, no coração do DF. Sua vida conta muita história, e parece que é essa tamanha sabedoria conquistada que concede a ela a magia de transformar um pedaço de pau seco numa figura divina. Seu ateliê, localizado em Brazlândia, é onde produz suas obras e conta suas histórias.
A artista cresceu vendo sua mãe fabricar panelas de barro. “Mãe fazia as panelas e eu, os cavalinhos e os jumentinhos de barro. Um dia, eu tinha uns sete anos, mãe perguntou o que era aquilo montado no jumentinho. Eu disse: ‘é Nossa Senhora do Desterro, mãe’. Ela não acreditou que eu tinha feito aquilo com o barro”. Quando moça, casou-se e viveu uma relação abusiva com o ex-marido, de quem se defendeu e se libertou ao vir para Brasília com o filho mais novo. Morou em Taguatinga, na Vila do Iapi (próxima ao Núcleo Bandeirante), em invasões. Casou-se pela segunda fez, mas seu marido foi assassinado, e a artista teve de ir trabalhar como empregada doméstica, até que sofreu um acidente que a impediu de exercer a atividade, já que passou a precisar de uma bengala para se locomover.
Maria Esmeralinda, então, inspirada por uma imagem, esculpiu sua primeira santinha de buriti e conseguiu sua carteirinha de artesã. Ela perdeu as contas de quantos santos esculpiu. “Acho que já fiz mais de 2 mil. Mas antes o povo comprava mais. Hoje, vendo pouquinho. E, assim mesmo, quem ainda compra é estrangeiro. As pessoas acham caro pagar R$ 35 por um. Elas não imaginam como é trabalhoso fazer. Hoje, o buriti é comprado”.
Embora tenha inventado os santos feitos de buriti, ela não se considera artista, mas uma “aprendedora”, pois, além de trabalhar por prazer, ela diz continuar aprendendo todos os dias.