Josafá Neves é pintor autodidata, escultor, gravador e arte-educador. Nasceu no Gama há 46 anos, filho de dois baianos, e teve que superar muitos obstáculos – o que trouxe força a seu trabalho. Em suas obras, mostra a inquietante realidade da cultura afro-brasileira, dando visibilidade a questões que envolvem a herança da escravidão e a presença do racismo, além de elementos como capoeira e religiões africanas. Todos os detalhes em suas obras estão relacionados a essa temática, inclusive as cores.
O artista defende que o povo negro, desamparado após a escravidão, está hoje inserido em poucas áreas, especialmente nas artes plásticas, que formam artistas de currículo, sem dar muita atenção aos autodidatas. A fim de caminhar na contramão dessa realidade, Josafá realiza iniciativas como levar a suas exposições trabalhos feitos por crianças que participam de suas oficinas. Ele prima por atender à Lei Federal n. 10.639/03 (que determina o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas) ao realizar oficinas com crianças e professores das escolas públicas do DF e da Universidade Católica de Brasília. A arte de Josafá, portanto, é política, poética e educativa – ele não quer ver seu trabalho limitado às pessoas que já têm acesso à arte.
Uma de suas séries mais conhecidas é Diáspora, exposta na Caixa Cultural, que mergulha na história de personalidades afrodescendentes cujos nomes acabaram esquecidos. “Essa mostra é sobre o rico patrimônio cultural que veio e se perdeu no Brasil. Acho que é importante falar sobre isso, porque trata do resgate e da afirmação do negro. Faço retratos dos personagens da diáspora na cultura, nas artes, na música, na academia e na literatura”, explica. “Aprendi que se a gente faz o que gosta, tudo sai bem. Para produzir minha obra, inspiro-me em tudo: na natureza ao meu redor, na minha vida e na minha ancestralidade”. E, assim, Josafá Neves, de sua atual casa-estúdio no Núcleo Bandeirante, faz emergir das sombras e do esquecimento a sua história.